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O
número de pessoas físicas que investe em ações cresceu nos últimos
anos. De acordo com a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), em outubro
310.625 pessoas fizeram aplicações, 9,17% a mais do que o registrado em
setembro, totalizando R$ 84,59 bilhões. A participação no mercado de
capitais brasileiro subiu de 9,7% em 1994 para 24,6% no ano passado. Neste
ano, até 6 de novembro, o volume de compra e venda de ações negociado
diariamente na Bovespa indica que a participação desse público alcança
23,1% do total. O número de participantes nos dez primeiros meses do ano já
é mais de 40% maior do que a quantidade de investidores no acumulado
durante 2006.
A análise dos balanços divulgados pelas empresas é peça fundamental para
quem investe nesse mercado. Dessa forma, o profissional da contabilidade
ganha importância. "Ele tem informação privilegiada, pois compila
todos os dados financeiros da empresa", destaca o analista de mercado
da Corretora Geral e professor das Faculdades Rio-grandenses (Fargs) Ivanor
Torres.
Segundo ele, o analista de mercado necessita de noções de contabilidade e,
para isso, muitas vezes busca informações adicionais junto aos
profissionais da área. "O contador pode trabalhar nesse meio,
orientando e esclarecendo alguns procedimentos contábeis para o
analista." As peças de balanços servirão de referência para a análise
fundamental, que dará base ao investimento e valor econômico de uma
empresa.
Torres identifica um espaço enorme a ser ocupado pelos profissionais contábeis
em relação às aplicações em ações. "Com o crescimento do
mercado, está se expandindo cada vez mais. Há a necessidade de que o
contador se atualize nessa área, visto que a exigência e a procura por uma
assessoria contábil é freqüente."
O diretor-técnico da Associação dos Analistas e Profissionais de
Investimento do Mercado de Capitais/Extremo Sul (Apimec-Sul) e professor de
Finanças da Escola Superior de Propaganda e Mar-keting (ESPM) e Unifin
Marco Antônio Martins lembra que uma das grandes preocupações que o
investidor tem é sobre a capacidade da empresa de gerar resultados futuros.
"Na medida que há a formação em contabilidade, é possível entender
por meio dos relatórios o que as companhias informam ao mercado",
afirma Martins.
Também graduado
em Ciências Contábeis
, o diretor-técnico da Apimec diz que a formação na área é muito
importante na medida que possibilita enxergar com mais precisão a análise
das informações das empresas abertas. "O conhecimento facilita
bastante a capacidade de avaliar balanços e analisar as companhias."
Operações eletrônicas inviabilizam a prática de esconder dados do Fisco
Os aspectos tributários estão presentes nas negociações de compra e
venda de ações, ressaltando a importância de assessoria de um
profissional contábil aos investidores. É preciso informar toda a parte
legal de um investimento de renda variável. Ocorre isenção de Imposto de
Renda (com o recolhimento de tributos quando de um ganho de capital - lucro
com a venda de ações) em lucros de até R$ 20 mil ao mês na venda, no
mercado à vista. Para valores maiores, o recolhimento de impostos ocorre
mensalmente.
Segundo o analista de mercado da Corretora Geral Ivanor Torres é
praticamente impossível operar no mercado de capitais de forma fundamentada
e técnica sem o conhecimento dos procedimentos do processo contábil.
"Somos consultados freqüentemente sobre a questão tributária. A
falta de conhecimento faz com que uma quantidade grande de declarações de
imposto de renda seja feita de forma incorreta." O contribuinte, ao
querer economizar, informa dados incorretos e acaba por correr risco junto
ao Fisco.
As operações em bolsa são feitas de forma eletrônica atualmente, o que
inviabiliza escapar da tributação. Todos os dados passam pela Receita
Federal e ficam registrados. "Não há como burlar a Receita, por isso
a orientação é que se faça de forma correta, nos prazos devidos e com o
acompanhamento."
A legislação existente para o mercado de capitais requer a orientação de
assessoria especializada para que o investidor possa cumprir suas obrigações
tributárias. "É a chance de o contador mostrar que conhece o
assunto." Operações como a contabilização da aquisição, alienação,
recebimento de dividendos, de bonificações, reconhecimento de lucros
isentos e pagamento de impostos devem ser executadas de forma correta.
Cada setor possui uma legislação e um tratamento tributário específicos.
Nos fundos de ações e clubes, o pagamento de impostos ocorre no resgate de
cotas. Diferentemente da pessoa física, em que o pagamento é feito em função
do resultado da alienação. As duas situações ocorrem no mercado à
vista. No mercado derivativo, de acordo com Torres, o tratamento tributário
é feito de forma diferente e deve ser analisado conforme o caso.
Cinco motivos para investir na Bolsa
Mais argumentos para você entrar neste mercado.
1 - Você pode ser sócio de grandes empresas.
Ao comprar uma ação, o investidor participa dos lucros das empresas, assim
como os grandes empresários. Mesmo um pequeno investidor pode ser sócio do
Bradesco, por exemplo, através do mercado de ações.
2 - O investimento em ações é uma excelente forma de diversificação.
O investidor pode aplicar em siderúrgicas, bancos, empresas de petróleo ou
educação de forma simples e segura.
3 - Com as taxas de juros em queda, o mercado de ações apresenta uma boa
oportunidade de buscar maior rentabilidade para os ativos das pessoas
comuns. Encerrou-se o tempo que o investimento num fundo DI era a solução
para a vida do investidor. Este terá que se sofisticar e buscar novas
alternativas.
4. O Brasil está vendo um fenômeno que já ocorreu nas economias do
primeiro mundo: o crescimento do mercado de capitais.
A cada dia novas pessoas ingressam no mercado incentivando o ciclo de
financiamento das empresas e o fortalecimento da economia.
5. Empresas pagam dividendos, parcela do lucro enviada ao acionista.
O investidor pode montar sua própria holding e ter uma renda além da
valorização da cotação do papel.
Atraso no pagamento de impostos gera multas.
Mesmo com a isenção, todas as operações realizadas em bolsas de valores,
de mercadorias, de futuros e assemelhadas estão sujeitas ao imposto de
renda na fonte, à alíquota de 0,005%, como antecipação, podendo ser
compensado com o imposto de renda mensal na apuração do ganho líquido. No
caso de day trade, a alíquota é de 1%. Nas operações do mercado à
vista, o recolhimento do imposto devido deve ser feito pelo contribuinte,
mensalmente, até o último dia útil do mês subseqüente àquele em que os
ganhos forem apurados, sendo que o recolhimento deve ser feito com código
Darf 6015.
Quem atrasar o pagamento do imposto devido fica sujeito às mesmas regras de
multa aplicadas na declaração de IR, ou seja, cobrança de multa e juros,
atualmente fixadas em 0,33% ao dia sobre o valor devido, limitado a 20% do
total. Há ainda a incidência da Selic no período.
Cinco razões para aprender
O mercado tem grande volatilidade. É preciso entender bem o funcionamento e
o motivo das oscilações antes de investir em renda variável.
Investir em conhecimento para proteger o patrimônio. Se o aplicador tem R$
100,00 e o mercado cair 50%, ele fica com R$ 50,00. Para recuperar a
quantia, o mercado precisa subir 100%.
É impossível comprar na baixa e vender na alta. É preciso uma estratégia
para ter grandes ganhos e pequenas perdas.
Mesmo dentro do mercado financeiro, há vários perfis de investidor. Através
da educação é possível identificar o perfil (agressivo, conservador e
arrojado).
Identificar oportunidades e risco com consciência.
Aplicador iniciante deve procurar conhecimento e informação
Os investidores de "primeira viagem" que querem se aventurar no
mercado de ações devem buscar conhecimento e informação através de
cursos e livros sobre o assunto. O conselho é do diretor da XP Educação,
Gabriel Leal. A Bolsa de Valores não é um assunto trivial. "No Brasil
ainda é um mercado embrionário. Recomendo a quem quer investir na bolsa
que comece fazendo um curso sobre as regras do jogo." O segundo passo
é escolher uma corretora que ofereça bons serviços, relatório, informações
e atendimento ao cliente.
O mercado de ações para a pessoa física registra crescimento. Nos últimos
cinco anos, o número desses investidores quintuplicou. Hoje, existem 270
mil CPFs cadastrados que compram e vendem ações na Bovespa. O crescimento
se deve à redução da taxa de juros, que torna menos atrativo o
investimento em fundo de renda fixa no banco.
O investidor pode desembolsar R$ 500,00 para começar a aplicar
em ações. A
quantia não permitirá diversificar o patrimônio, comprando e vendendo,
mas possibilitará o início das negociações. Entretanto, algumas
corretoras exigem de R$ 3 mil a R$ 5 mil para realizar os primeiros
investimentos. No caso da XP, o valor cobrado é de R$ 500,00.
A dica para investir é comprar as principais ações que compõem a bolsa,
como a Vale do Rio Doce, Petrobras ou Banco Bradesco. São empresas sólidas.
Ações de empresas em expansão podem oferecer um retorno maior, mas com um
risco mais elevado. O diretor-técnico da Apimec-Sul Marco Antônio Martins
aconselha o investidor a não comprometer recursos que tenham data certa de
resgate. "Pense a médio e longo prazo. Saiba o que está comprando, o
que faz a empresa, quais as perspectivas para esse negócio." Aos
contadores, Martins diz que é preciso verificar se a empresa tem capacidade
de gerar bons resultados a médio e longo prazo e não apenas acreditar no
que o mercado acha que ela vale.
Fonte:
Jornal do Comércio
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