EDITORIAL DO PRESIDENTE
Prezado(a) colega,
O editorial desta semana abordará as Controvérsias na História da Contabilidade. A primeira controvérsia não poderia deixar de ser a autoria o método das partidas dobradas, hoje divulgado em todo o mundo e usado para fazer os registros contábeis. Desde a sua difusão em 1494, ninguém conseguiu criar outra possibilidade.
Muitos autores atribui ao Frei Luca Pacioli a paternidade das Partidas Dobradas, apresentadas pela primeira vez em sua “SUMMA DE ARITIMÉTICA, GEOMETRIA, PROPORTIONI E PROPORTIONALITA”, através do “TRACTATUS XI PARTICULARIS DE COMPUTIS ET ECRIPTURIS”, composto de 36 capítulos, editado em 1494. Ele tratou do assunto com muita profundidade e competência, dando a impressão de que o notável Frei Franciscano fora, efetivamente, o criador das Partidas Dobradas.
Aliás, até hoje, muitos estudiosos da Contabilidade cultuam Pacioli como o pai das Partidas Dobradas. Acontece que notáveis pesquisadores brasileiros defendem que antes de Pacioli, outros autores já tratavam das Partidas Dobradas. Referimo-nos, dentre outros, ao Prof. Lopes de Sá, que em sua obra denominada de “A Literatura Contábil antes de Pacioli”, produto de uma importante pesquisa, afirma que na Arábia ABDULLAH IBM MEHAMMED IBM KIJA AL MAZENDARANI, no ano de 1363, já tratava do assunto com muito conhecimento de causa.
Assim sendo, se o Tratado de Pacioli foi editado em 1494 e o livro de AL MAZENDARANI em 1363, este já conhecia as Partidas Dobradas 131 anos antes. Afirma o laureado mestre: “sob o número 2756, na divisão de manuscritos da Biblioteca AYASOFYA, de Istambul, Turquia, encontra-se o livro intitulado RISALE – I – FELEKIYE, de autoria de ABDULLAH IBM MOHAMMED IBM KYA AL MAZENDARANI, vindo à luz no Teerã (hoje Irã, naquela época Pérsia)”.
O ilustre brasileiro Prof. Lopes de Sá disse, ainda, que antes do autor árabe, já eram conhecidas as Partidas Dobradas na Itália, por volta dos anos de 1250 a 1280, isto é, há 100 anos antes de ABDULLAH e 231 de Paciolo.. O mestre Lopes de Sá, em seu livro “Luca Pacioli um mestre do Renascimento”, publicado pela Fundação Brasileira de Contabilidade, ano 2004, assim se expressou: “A primeira obra que difundiu as Partidas Dobradas é de autoria de Frei Luca Pacioli e foi inserida em uma obra de Aritmética, Geometria, Proporções e Proporcionalidade, editado em 1494, por Paganino dei Paganini, em Veneza, e a seguir disse: “Não é pois, uma obra, exclusivamente Contábil, mas um livro que insere na sua Distinção IX, o ‘Tratado XI Particular de Computação e Escrita’, matéria contábil aplicada a empresas comerciais pelo processo de Partidas Dobradas”.
Efetivamente, a ampla divulgação da obra de Pacioli decorreu em face da descoberta da imprensa pelo alemão Gutemberg em 1440, proporcionando a edição de vários exemplares, o que não aconteceu com os autores que os antecederam, uma vez que sendo livros manuscritos os seus exemplares foram produzidos em pequeníssima quantidade, consequentemente, sem qualquer divulgação. Com isso, pode-se afirmar que Pacioli tem o mérito de sistematizar e difundir o método das partidas dobradas.
O prof. Lacerda Alves, em seu livro “ Das Controvérsias na Contabilidade” Imprensa Regina – Bahia – 1956, defendeu a tese de que as Partidas Dobradas contidas no “Tractatus Particularis de Computis et Scripturis” de Luca Pacioli, em 1494, foram antecipadas por Benedetto Cotrugli que escreveu em 1458, uma obra sobre Partidas Dobradas, somente publicada em 1573. O mestre D’Áuria, também em seu livro “Primeiros Princípios de Contabilidade Pura”, faz menção a obra de Cotrugli, atestando o que o Prof. Lacerda Alves afirmara.
Com base nos argumentos anteriormente expostos, não podemos afirmar que o frei Luca Pacioli é o Pai da Contabilidade e nem o criador do Método das Partidas Dobradas, e sim respeitar a sua capacidade intelectual como filósofo e ,atemático que em sua obra, pôde em 1494 contribuir para a difusão do método em todo o mundo, mérito esse que ninguém pode anular. Nas próximas edições, daremos continuidade a outras controvérsias na história da Contabilidade.
Atenciosamente,
Prof. Dr. Antonio Carlos Ribeiro da Silva (ACR)
Presidente do CRCBA
|